>

5 de mar. de 2010

[conto] O BONITÃO – Nelson Rodrigues




PEDRO LUSO DE CARVALHO

NELSON RODRIGUES - Nelson Falcão Rodrigues – nasceu a 23 de agosto de 1912, no Recife, e morreu em 21 de dezembro de 1980, no Rio de Janeiro. Ele é o maior nome dramaturgia brasileira do século 20, dramaturgia que se desenvolveu no conflito entre o desejo e a repressão, que teve o seu início aos 17 anos, quando seu irmão Roberto foi assassinado.
Nas suas obras não dá tréguas ao mundo pequeno-burguês, dando realce à hipocrisia que forjou o caráter de mulheres e de homens. O próprio Nelson Rodrigues provinha de um ambiente da pequena burguesia, que lhe proporcionou, desde pequeno, um forte senso crítico.
Segue o conto O bonitão, de Nelson Rodrigues (In A vida como ela é.../Nelson Rodrigues – Rio de Janeiro: Agir, 2006, p. 378):


O BONITÃO

Namoravam-se há oito meses. E quando Norma foi beijada na boca, pela primeira vez, teve uma tal comoção que no dia seguinte apareceu com urticária. Ela amava Jubileu com o desespero, a fanatismo de um primeiro amor. De resto, era um belo rapza, forte, espadaúdo, de olhos verdes e dentes perfeitos. Além do mais impressionava por uma particularidade muito interessante: a obstinação com que usava ternos brancos; e só ternos brancos, fizesse chuva ou sol. Essa predileção por uma cor, em detrimento das outras, ava o que pensar. Muitos aventuravam a blaque:”Lá vevem fulano vestido de noiva!?” Outros indagavam: “Vais fazer a primeira comunhão?” Jubileu não ligava; ria também, e continuava exibindo os ternos brancos mais bem passados do Rio de Janeiro. Parecia gostar de Norma e já prometera:
– Aguenta a mão que eu fico noivo quando arranjar emprego!



*     *     *

  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Logo seu comentário será publicado,
muito obrigado pela sua leitura e comentário.
Meu abraço a todos os amigos.

Pedro Luso de Carvalho