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8 de out. de 2012

[Conto] NELSON RODRIGUES – Amor



PEDRO LUSO DE CARVALHO

NELSON RODRIGUES (Nelson Falcão Rodrigues) nasceu a 23 de agosto de 1912, em Recife, e morreu em 21 de dezembro de 1980, no Rio de Janeiro.
O teatro brasileiro teve em Nelson Rodrigues o seu dramaturgo mais célebre do século 20. Ele teve competência e talento suficientes para desvendar o mundo pequeno-burguês (do qual ele próprio fazia parte) com o propósito de colocar homens e mulheres frente à crua realidade da vida.
Nelson Rodrigues não se ateve apenas ao teatro; escreveu romance, contose crônica (com ele, a crônica esportiva atingiu a sua maioridade).
Suas principais peças são: Vestido de noiva (1943), Álbum de família (1945), A falecida (1953), Beijo no asfalto (1960), Toda nudez será castigada (1965).
Escolhemos para esta postagem o conto Amor, de Nelson Rodrigues, um dos contos que compõem o livro A vida como ela é... (in A vida como ela é... / Nelson Rodrigues, Rio de Janeiro, Agir, 2006, p. 140), que segue, na íntegra:

AMOR
NELSON RODRIGUES

Sem querer, sem sentir, Armando foi envolvido. Houve um momento em que, desconcertado, procurou o Chagas. Era uma boa alma, de uma ingenuidade desesperadora. Admite para o outro a sua perplexidade: “Não há dúvida que eu gosto muito de tua cunhada. Mas será isto amor?” Chagas bateu nas costas, cínico:
Se isso é ou não é amor, só Deus sabe. Mas uma coisa te digo: casamento não tem nada a ver com amor. E nem se deve amar a própria esposa. Não é negócio e só dá dor de cabeça. Compreendeste?
Essas ideias, que o desconcertavam pelo cinismo, faziam Armando sofrer. Chagas continuava: “A esposa é a companheira, a sócia.” Em suma: só faltou dizer que só a rua, e não o lar, era compatível com o amor. Mais tarde, com Lucila, Chagas esfregava as mãos de contente: “Armando está indo que nem um patinho. Não enxerga dois palmos diante do nariz. Qualquer conversa meio confusa o convence.” Fazia projetos:
Quando tu casares, eu estarei lá rente que nem pão quente. Acabo sendo o padrinho de vocês.
Olhava a cunhada: “Que vontade de chupar esses peitinhos!”



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Pedro Luso de Carvalho