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30 de jan. de 2010

[Poesia] DRUMMOND – A Federico Garcia Lorca




PEDRO LUSO DE CARVALHO

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE fez sua estreia em livro no ano de 1930, com Alguma Poesia. Nessa obra, o poeta reuniu trabalhos que havia começado a produzir a partir de 1925. A crítica literária e o público leitor recebeu o livro (Alguma Poesia) com forte reação, quer de elogios quer de contrariedade.
Em que pese pudesse ser notado na obra alguns modismos que eram advindos do modernismo, um fato não podia ser negado: ali se via um grande poeta, como poderia ser aquilatado nos livros que se seguiriam a este, como: Brejo das Almas, 1934; Sentimento do Mundo, 1940; A Rosa do Povo, 1945; Claro Enigma, 1951. Tais obras dariam a Drummond a posição de o maior poeta moderno brasileiro.
Carlos Drummond de Andrade nasceu na cidade de Itabira, Minas Gerais, a 31 de outubro de 1902, e faleceu no Rio de Janeiro, a 17 de agosto de 1987.
Segue o poema “A FEDERICO GARCIA LORCA”, de Carlos Drummond de Andrade (In Antologia poética / Carlos Drummond de Andrade. 11ª ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1978, p. 93-94):



      A FEDERICO GARCIA LORCA
     – CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE



Sobre teu corpo, que há dez anos
se vem transfundindo em cravos
de rubra cor espanhola.
Aqui estou para depositar
vergonha e lágrimas.

Vergonha de há tanto tempo
viveres – se morte é vida –
sob chão onde esporas tinem
e calcam a mais fina grama
e o pensamento mais fino
de amor, de justiça e paz.

Lágrimas de noturno orvalho,
não de mágoa desiludida,
lágrimas que tão-só destilam
desejo e ânsia e certeza
de que o dia amanhecerá.
(Amanhecerá.)

Esse claro dia espanhol,
composto na treva de hoje
sobre teu túmulo há de abrir-se,
mostrando gloriosamente
ao canto multiplicado
de guitarra, gitano e galo –
que para sempre viverão
os poetas martirizados.






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Pedro Luso de Carvalho