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28 de fev. de 2010

NÃO SE MATE – Carlos Drummond de Andrade





PEDRO LUSO DE CARVALHO

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, o mineiro nascido na pequena cidade de Itabira, fez sua estreia em livro no ano de 1930, com Alguma poesia. Nessa obra, o poeta reuniu trabalhos que havia começado a produzir a partir de 1925. A crítica literária e o público leitor recebeu o livro (Alguma poesia) com forte reação, quer de elogios quer de contrariedade. Mas não se podia negar que ali se via um grande poeta, que com João Cabral de Melo Neto e Manoel Bandeira formariam o trio de maior representatividade da poesia moderna brasileira.
Segue o poema Não se mate, de Carlos Drummond de Andrade (in Antologia poética / Carlos Drummond de Andrade. 11ª ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1978, p. 137-138):


NÃO SE MATE
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Carlos, sossegue, o amor
é isso que você esta vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as horas que ninguém sabe
quando virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e asluzes todas se apgam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.


      
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Pedro Luso de Carvalho