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13 de jan. de 2011

O CHAMADO – Carlos Drummond de Andrade




– PEDRO LUSO DE CARVALHO

Em Alguma poesia, de Carlos Drummond de Andrade, aparecem alguns modismos, que foram colhidos no modernismo, mas isso não seria obstáculo para a formação do grande poeta, o de fato aconteceu.
Efetivamente, dentre os poetas que surgiram em data próxima a Semana da Arte Moderna (1922), Drummond seria o destaque maior, juntamente com João Cabral de Melo Neto e com Manoel Bandeira. Esse fato pode ser constatado pelos livros de Drummond, que se seguiram a este, como: Brejo das almas, 1934; Sentimento do mundo, 1940; A rosa do povo, 1945; Claro enigma, 1951.
Segue o poema de Carlos Drummond de Andrade, intitulado O chamado  (in Claro Enigma. Carlos Drummond de Andrade. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 1991, p. 67-68):

 O CHAMADO
Carlos Drummond de Andrade

Numa rua escura o velho poeta
(lume de minha mocidade)
já não criava, simples criatura
exposta aos ventos da cidade.

Ao vê-lo curvo e desgarrado
na caótica noite urbana,
o que senti, não alegria,
era, talvez, carência humana.

E pergunto ao poeta, pergunto-lhe
(numa esperança que não digo)
para onde vai – a que angra serena,
a que passárgada, a que abrigo?

A palavra oscila no espaço
um momento. Eis que, sibilino,
entre as aparências sem rumo,
responde o poeta: Ao meu destino.

E foi-se para onde a intuição,
o amor, o risco desejado
o chamavam, sem que ninguém
pressentisse, em torno, o Chamado.


*  *  *



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Pedro Luso de Carvalho